Cadê os jovens das escolas de luta?...

Este é um assunto que tratamos exaustivamente aqui durante os últimos meses de 2015, quando ocorreram as ocupações das mais de 200 escolas paulistas, por alunos que lutaram contra a "reorganização" da rede estadual, muitos deles, aliás, contra o fechamento da própria escola onde estudavam.


Entretanto, as questões que esses alunos levantaram durante suas ocupações extrapolaram o fechamento de escolas e turnos na rede paulista. Eles "se apropriaram" da escola de forma como nunca haviam tido oportunidade, colocando-se no papel do vigia, da merendeira, do professor, do diretor... Viveram a escola durante as 24 horas do dia, tiveram oportunidade de refletir não apenas sobre a forma como a escola era gerida, mas também como ela se insere na cidade, no estado,no país, na vida da população. Surgiram discussões sobre política, cultura e gênero, como nunca houve anteriormente.

O último post de 2015, Alunos das escolas de luta: do MACRO ao MICRO continha a esperança de que esses alunos pudessem dar continuidade aos seus questionamentos dentro de suas escolas, de forma mais ampla e aberta. Ao mesmo tempo estava claro que, durante o novo ano letivo, eles poderiam sofrer perseguições e represálias, já que eram em número insignificante comparados ao total dos alunos das escolas.

Essa previsão se concretizou, infelizmente. Por um lado, a tal "reorganização" das escolas da rede, que se resume em fechar escolas, turnos e classes, foi sendo tocada na surdina; por outro lado, o autoritarismo da Secretaria da Educação se manifestou através da direção das escolas, que utilizaram suas habituais técnicas de marcação dos alunos "rebeldes" e mobilizaram a maioria dos pais de alunos para garantir que o ano escolar correria como o habitual, ou seja, sem atos ou discussões polêmicas. 

Dessa forma, o movimento de conscientização dos alunos, que se realizou durante as ocupações, não se estendeu a toda a comunidade escolar. Nada de discussões, de rodas de conversa, de eventos culturais ampliando a vivência da escola...

Isso ficou muito evidente durante o ano de 2016, quando o país passou por turbulências políticas que levaram à desfiguração da Constituição Federal, sem que "as ruas" se manifestassem. Se considerarmos as dimensões continentais do país, pipocaram algumas ocupações de escolas e faculdades, contra a PEC do Teto de gastos e a reforma do ensino médio, mas não aqui no estado de São Paulo, onde o autoritarismo da rede conseguiu dominar os alunos que participaram das ocupações de 2015. 

A Carta Educação faz uma reflexão interessante sobre a participação dos jovens na vida pública, com a reportagem Um ano pós-ocupações: avançamos com a participação juvenil? Ela mostra como a instituição escola, as entidades estudantis organizadas, os partidos políticos, inclusive muitos movimentos sociais, continuam burocratizados e afastados da realidade das ruas, afastando os jovens mais críticos, que estão cansados de teorias e desejam colocar a mão na massa. 

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