Diminuir o número de aulas ruins? Ótima ideia!


Já cansamos de falar, aqui, da irresponsabilidade que levou à total inutilidade do ensino médio no Brasil, um curso que não chega a absolutamente lugar algum. Justo quando apareceu uma luz no horizonte, mostrando um caminho digno para a maioria dos alunos da rede pública, essa luz foi apagada pelo governo federal, com a conivência do governo estadual de São Paulo, locomotiva do país. Há 15 anos, o governo federal decretou o fim do ensino médio integrado ao técnico. Por sua vez, o Estado de São Paulo, que naquela época chegou a fechar mais de 300 escolas de ensino regular, lavou suas mãos, quando poderia ter, no mínimo, contestado o absurdo da medida federal e aproveitado as escolas fechadas para um projeto de integração.

Mas tudo isso não ocorreu por acaso: nossos políticos garantiram assim manter a população ignorante por mais umas décadas, conseguindo se reeleger - graças não à justiça social, que ainda está longe de ser realizada no país, mas às bolsas-esmola e outros "benefícios", como a vaga numa escola qualquer para os filhos, ainda hoje encarada como uma dádiva e não um direito.

Dizer que o ensino médio hoje não leva a lugar algum é mais do que óbvio, mas o país não está muito preocupado com a questão, já que o assunto mal aparece na mídia, embora seja "discutido" em nível governamental, em vista das próximas eleições... Então vejamos:
  • Mais de 50% dos alunos do Ensino Médio não completam o curso, seja por desmotivação ou por expulsão.
  • de 25% a 30% das aulas são vagas, com exceção do período noturno, onde essa percentagem chega a 50%, pois o aluno trabalhador, justo aquele que merece mais apoio, é tratado com um descaso ímpar.
  • Não chega a 10% a percentagem de alunos da rede pública que tentam o ENEM, o que mostra a descrença em poder cursar uma faculdade ou o desinteresse em continuar os estudos. Estudos?... Continuar?...
Recebemos muitas mensagens de alunos do ensino médio, com todo tipo de denúncias e reivindicações. Pior do que o grande número de erros de português, é a dificuldade que eles têm de se expressar. A adolescência seria uma excelente época para os alunos recuperarem o tempo perdido nos primeiros anos escolares, quando os professores não ensinaram a verbalizar oralmente o que pediam para copiar ou escrever. Os jovens gostam e precisam se expressar, mas isso é proibido nas escolas públicas brasileiras. O aluno que fique quietinho no seu canto ouvindo o professor falar, ou então copiando da lousa!

Tratado como estorvo, tendo muito menos aulas do que o previsto e ainda por cima de má qualidade, saindo do curso sem saber escrever um curriculum nem enfrentar uma profissão em que tenha que fazer um cálculo de percentagem, completar o ensino médio pra quê?...

A última ideia da Secretaria Estadual de São Paulo para tornar o ensino médio "mais atraente" (sic) é reduzir o número de aulas de português e matemática. Parece piada, mas não é. O governador diz que é contra a medida e que vai haver uma boa discussão até chegar a uma decisão. Pela lógica, diminuir aulas ruins de matemática e português pode ser muito bom! Se essas porém forem substituídas por aulas de espanhol, filosofia ou sociologia, também ruins, qual a vantagem? E a "carga horária" de aulas vagas, vai mudar? Quanto vale uma aula vaga? Ela é melhor ou pior do que uma aula ruim? Infelizmente, essas questões não serão discutidas pelos gestores do sistema educacional.

Essa história de aumentar ou diminuir aulas disso ou daquilo, bem como a de aumentar ou diminuir os dias letivos é mais uma forma de mostrar serviço. No fundo, troca-se seis por meia dúzia, como já vimos acontecer nos 22 anos que acompanhamos o ensino público.

O ensino só vai se tornar mais atraente quando o aluno sentir que ele está PROGREDINDO NOS ESTUDOS, entendendo a matéria e sentindo que há uma continuidade e uma lógica naquilo que está APRENDENDO. Esse é o desafio! E essa é uma das questões que vamos levar para a COGSP na terça-feira. Aguarde!

Comentários

cremilda disse…
SENHOR GOVERNADOR DE SÃO PAULO. DR GERALDO ALCKIMIN : ISTO É UMA VERGONHA !!!!!!!!
Hoje na reunião na Cogesp contei com o apoio providencial da Giula do Educaforum e do Tertuliano, amigos de sempre nessa luta contra a violência da escola pública.
Duas cobranças. A primeira era a volta de uma aluna que a escola Andronico de Mello expulsou sem mais nem menos e elaborou um Boletim de Ocorrência contra ela na 34 Del.de Policia da Vila. A diretora em uma das reuniões afirmou que era uma recomendação da ” CARTILHA DOS CORVOS”. Sempre ela provocando essas desgraceira geral que assola a escola pública em São Paulo.
Fomos recebidos pelo Coordenador Geral da Cogesp, Sr. José Benedito, tres acessores e a Dirigente Regional da Diretoria Centro Oeste.
Imagina esse aparato todo e ainda por cima tomar uma tarde inteira do Coordenador Geral da Cogesp, para que uma aluna pudesse estudar no periodo da noite, direito dela líquido e certo.
A dirigente e duas acessoras do José Benedito fizeram de tudo para não dar a vaga. A terceira assessora, a Waleska de comportou de modo discreto e atento, sem fazer coro com os colegas que tentavam convencer o Coordenador a impedir a aluna de voltar. Os outros dois do lado a dirigente que não arredava o pé.
O Coordenador tentou convence-la de liberar a vaga, e de modo gentil. Nâo conseguiu e mostrou firmeza.
Não fosse a firmeza e a coragem do Coordenador da Cogesp a aluna ficaria fora da escola e pronto.
O Coordendor é um homem elegante e educado, e acho que parece que a Dirigente Regional da Centro Oeste confundiu essa elegância com frouxidão.
Ele então determinou que a aluna fosse reintegrada na escola A partir do ano que vem no primeiro ano do ensino médio noturno.
Só que essa reunião teve muitos lances que compensa divulgar.
Assim será.
Senhor Governador, precisa uma reunião na Cogesp para que uma aluna volte para a escola ?
Esse é o motivo de ter metade dos alunos do ensino´médio fora da escola segundo o IBEGE.
SÓ FICA NA ESCOLA QUEM A DIRETORA QUER, COM AS BENCÃO DAS DIRETORIAS REGIONAIS DE ENSINO.
Tudo devidamente amparado pela impunidade.
A escola Andronico de Mello fica quase dois anos teimando em não aceitar a aluna de volta e não acontece nada para os responsáveis pela violência.
Giulia disse…
Oi, Cremilda, postei acima. Vamos ver no que vai dar... Mandei pelo Twitter para o Padula, rsrs.
cremilda disse…
Que bom, obrigada.
E hoje vou falar no Programa Assembléia Popular.
Essa reunião vai dar uns tres posts
Era tanto "causo" que fica difícil colocar num post só.
Acho que vale a pena você falar na Alesp sobre o caso da E.E.José Lins do Rego.