A escola que deseduca XII - O bullying docente continua


Lembra da mensagem do outro dia? Leia aqui novamente:

Minha filha tem DDA e sofreu bullying liderado pela professora quando estava no segundo ano primário. Ela colocou apelido de "XXX (nome dela) que não faz nada", "XXX preguiçosa" e agredia ela diariamente. Pegava o caderno dela, andava pela sala inteira mostrando para todos, para humilhá-la. Ela era uma criança hiperativa, alegre, mas naquele semestre passou a ser uma criança totalmente apática. Passava todo periodo da aula debruçada sobre a mesa sem levantar a cabeça. Quando percebemos o que havia de errado, transferimos ela para uma outra escola, mas o trauma já estava instalado. Hoje ela tem 15 anos, até hoje ela sofre de apatia na sala de aula e não conseguimos resolver o problema apesar de nosso empenho, tratamento psicologico e remédios. Hoje, na reunião com a orientadora pedagógica, ela disse que se ela continuar assim, a escola terá que tomar providências pois para os professores é extremamente difícil e não pode ficar nessa situação. Ela não tem NENHUM comportamento delinquente, apenas é apática e não participa nas atividades de aula. A escola pode expulsar um aluno por causa disso?

Essa mãe acaba de nos enviar mais informações:

Obrigada por divulgar nossa experiência.
Apesar de termos condições de pagar escola particular, minha filha quis ser transferida para escola pública, pois achou que a pressão pelo bom desempenho iria diminuir.
Na verdade, tanto as escolas particulares quantos as públicas foram uma decepção para nós. Moramos numa cidade pequena e não temos muitas opções.
Ultimamente a coordenadora pedagógica da escola tem nos ameaçado de denunciar para o conselho tutelar. Denunciar o quê? Não sei.
A psicopedagoga que está atendendo minha filha solicitou, à direção da escola, um relatório de avaliação do comportamento dela, para que possa auxiliar no tratamento. A escola recusou. A direção disse que os professores são extremamente ocupados.
Esta semana, mais uma vez fui chamada para "reunião" na escola... Estou deprimida. É sempre queixas intermináveis sobre minha filha. Totalmente monólogo. Quando tentamos sugerir algo para que possamos trabalhar juntos, tudo que escuto é - Ah, é difícil, nós não podemos dar um tratamento especial...

A última reunião pedi para que a psicopedagoga participasse junto. Como ela é profissional na área, demonstrou muito mais capacidade de argumentação e conseguimos algumas "promessas" por parte da direção. Só que alguns dias depois falaram que não foi combinado nada daquilo. Parece que a partir da proxima reunião terei que exigir ata.

Sim, é o caso de exigir ata, mas esteja certa de que a escola não vai fornecer cópia! E tem mais: os professores não estão "extremamente ocupados"... A verdade é que a escola não vai emitir relatório algum, pois TEM MEDO que esse relatório possa ser usado contra ela. Essa é a realidade da escola no Brasil: uma escola que não dá a mínima para o aluno e ainda por cima ameaça denunciar os pais para o Conselho Tutelar, que se tornou o maior aliado em seus abusos.

Quando falamos pela primeira vez aqui de "bullying docente", só faltou sermos processados. E sempre vêm os puristas da língua colocar os pontos nos ii: "bullying é coisa entre crianças ou adolescentes". Então tá!

Leia também o post anterior: Cortina de fumaça sobre o bullying docente

Comentários

Elviriinha disse…
No meu entendimento não se trata de bullying docente, mas de uma prática de abuso e violação dos direitos constitucionais do aluno. Bullying é brincadeira de mau gosto e deve ser coibida para não passar disso. Humilhar, ofender e desrespeitar o aluno é crime.
Giulia disse…
Maria Elvira, você já nos conhece há tempo... Usamos esse tipo de expressão para dar uma chacoalhada a uma sociedade letárgica. Os abusos da classe docente contra alunos nunca são considerados crime e nunca se reflete sobre o modelo de comportamento que o professor apresenta aos alunos em sala de aula. Já contei aqui a história de um aluno que ia ser expulso do famoso "Nicão", escola pública de classe média (esse é um fenômeno tipicamente brasileiro...) em Sampa, porque ele falou um único palavrão em toda sua vida escolar, na sala de aula. A diretora encheu o peito e disse: "NA MINHA escola não tolero um único palavrão". Nessa hora (eu estava presente à reunião de expulsão via Conselho de Escola) o rosto do aluno se iluminou e ele lembrou: minutos antes de ele soltar o tal palavrão em sala de aula, a professora acabara de pedir silêncio para a classe, da seguinte forma: "Parem já com a viadagem nesse canto!" A professora estava presente à reunião do Conselho e eu questionei se ela tinha noção de que havia dado o exemplo pra o aluno. Ela respondeu... adivinhem o quê??? Que ela estava estressada! Então é isso: quando é o professor, trata-se de estresse e de repente ele até ganha uma licença, quando é o aluno, isso vira motivo de expulsão. Deu pra entender?...
Elviriinha disse…
É verdade. Nós temos que ser muito responsáveis quando falamos com um aluno.
Nassar disse…
Eu gostaria de dar uma idéia... Em vez de fazer uma ata, coisa que jamais a escola vai fornecer cópias, poderia filmar. É só solicitar o consentimento da escola. Caso a escola não aceite, pede para dar por escrito que não aceitou e que não fornecerá uma ata de reunião.
Idéia lançada.... Abraços
Anônimo disse…
JÁ PENSESOU NA POSSIBILIDADE DE TER UM MEDIADOR EM SALA DE AULA ACOMPANHANDO O ALUNO. Alunos com DDA podem ter mediadores que os ajudem em seus dificuldades, ele teria um acompanhamento e provavelemnte acabaraia este problema coms os docentes, se é que de fato existe mesmo.
Giulia disse…
Anônimo, acho que essa medida só ajudaria os psiquiatras, que teriam dez vezes mais consultas, rsrs, já que o TDAH é a bola da vez! Para as escolas providenciarem mediadores para os alunos TDAH elas primeiro cobrariam o laudo... Mas valeu a sugestão, se mais alguém tiver ideias, é assim que se encaminham as soluções. Um abraço!