Do blog da Glória


Estamos em época de "férias". Sim, para variar, o Estado prefere deixar as crianças na rua do que orientá-las a lavar as mãos ou a passar álcool para evitar a gripe. Álcool??? Quero muito que alguém aponte uma única escola, em território nacional, onde as crianças possam lavar as mãos. Quando falta sabonete, falta papel para enxugar... Mas quem se importa com isso? Afinal, as escolas públicas brasileiras não passam de cabides de emprego e o compromisso do Estado é com o salário do professor, do diretor, do supervisor, do dirigente de ensino e da penca de assessores das Secretarias da Educação.

Dentro da massa amorfa dos "educadores" brasileiros, uma única voz se levanta em defesa da infância e juventude, as demais parecem se importar, mas não convencem. Segue a última crônica da professora Glória Reis:

Tenho curiosidade e uma paciência infinita para entrevistar os meninos na rua. Deparei com um, começo a perguntar. Ele apareceu na minha porta:
- Que série você está?
-7ª série.
- A diretora da sua escola é boa?
- É...
- Como ela se chama?
- Não sei...
- Como não sabe nem o nome da diretora e diz que ela é boa?
- É que nem conheço ela...
- ???
- Uns lá é que falam que ela é boa.
- Mas isso não pode ser, você tem de ter sua própria opinião.
Ar de espanto. O que é ter opinião?, parece pensar. Mudo de assunto.
- E os professores?
- São bons...
- Todos?
- São.
- E as suas notas?
- Só Português que vem ruim...
- E a professora é boa?
- É...
- Então por que a nota vem vermelha?
- Ela não dá nem dever, às vezes sai da sala, vai lá pra baixo e fica fora uns 20 minutos, esses dias ela levou um computador pra sala.
- E vocês?
- Ela manda fazer exercício do livro.
- E fica no laptop...
- É...
E você ainda diz que essa professora é boa?
O menino sorri sem entender nada. Enfia na sacola o tênis e as roupas que me pediu, encheu a boca com o bolo que lhe dei e sinalizou que a entrevista estava encerrada.
E caminhou rumo ao portão no passinho miúdo de quem não tem planos para o futuro.

Glória Reis - Leopoldina, MG
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LAURO DE OLIVEIRA LIMA

Durante anos e anos, este processo de domesticação é exercido pelos mestres, na tentativa de submeterem os alunos a seus caprichos, gerando a revolta contida ou a passividade. Ninguém, no sistema escolar, está realmente empenhado em estimular o desenvolvimento das crianças, gerando um cidadão democrático, autônomo, seguro de si, criativo, generoso e sociável. Não é uma nova sociedade que se elabora. O que se tem em mira é um indivíduo conformado, passivo, obediente, integrado no grupo social."

Educador brasileiro - Do livro Para que servem as escolas

Comentários

Giulia disse…
Informo que recebemos diversos comentários impublicáveis, de sindicalistas falando, por exemplo, que não devemos ter filhos, pois se tivéssemos estaríamos no tanque de lavar roupa, tendo o que fazer...
Nenhum, como era de se esperar, informa o nome de uma única escola pública onde o aluno tenha condição de lavar as mãos, com sabonete e toalha para enxugar. Coragem, senhores sindicalistas, chegou a hora da verdade!!!
Giulia disse…
Ah, deixo bem claro que esses comentários são anônimos... Os senhores sindicalista são o que há de mais covarde no mundo.
Mauro A. Silva disse…
Conferência da Educação e os delegados biônicos

A Conferência Municipal de Educação da Cidade de São Paulo está acontecendo de maneira quase secreta…
Não querem nem saber de ouvir os alunos, nem os pais e nem a comunidade…
É só sindicalista controlando tudo… nenhum representante dos pais na mesa diretora…
O presidente do Conselho Municipal de Educação abriu a conferência: só agradeceu ao “seu” secretário e aos seus colegas professores… nenhuma palavra aos alunos nem aos pais…
O secretário Alexandre “Bela Adormecida” Schneider só se preocupou em falar da remuneração dos professores… nenhuma palavra sobre garantir eleição democrática para os conselhos de escola…
A professora Iara Bernardi, do MEC, até hoje não disse o motivo pelo qual esconderam as propostas dos Pais na 1ª Conferência Estadual da Educação Básica de SP (Guarulhos -SP 2007)…
O ponto mais baixo foi quando a representante do autodenominado sindicato de professores pediu aos seus compars…, digo colegas que votassem contra a o item que garantiria que as propostas apresentadas pelos pais constassem no relatório final… a professora-sindicalista defendeu que as propostas dos pais deveriam ser aprovadas pela maioria dos professores… sem o aval dos professores, as propostas dos pais não valeriam nem mesmo o papel em que foram escritas…
Aliás, esta professora-sindicalista fez parte da “comissão de redação” que sumiu com as propostas que os pais conseguiram aprovar na 1ª Conferência Estadual da Educação Básica de SP (Guarulhos-SP 2007)…
Desta vez, para garantir que as propostas dos pais não sejam nem mesmo anotadas no relatório parcial, os professores-sindicalistas aproveitaram uma idéia do ex-presidente-ditador Ernesto Geisel: criaram a figura do delegado biônico… Vejam como é: as entidades organizadoras da conferência terão o poder ditatorial de indicar 2/3 (dois terços) dos delegados que irão para a Conferência Estadual de SP!!! Pior que isto: estes delegados biônicos ainda terão o poder de votar na escolha dos outros delegados!!!
Como diz a Cremilda: TÁ TUDO DOMINADO!!!
(Coneb S. Paulo - Conferência Municipal de Educação - 15 e 16 de agosto)
http://www.conaesp.net.br/
Postado por Mauro A Silva - Grêmio SER Sudeste