Mídia nota zero - A série - II


Este segundo post da nova série Mídia nota zero reforça tudo o que foi falado no primeiro,


Há mais de uma semana, a mídia maria-vai-com-as-outras não encontra outro assunto a tratar, além da suposta “melhor escola” da rede estadual de São Paulo, a EE Lúcia de Castro Bueno. Após o Jornal da Tarde e o Agora São Paulo, comentados no post anterior, a Folha de São Paulo deu destaque ao assunto, repetindo as mesmas lengalengas e não avançando em nada na informação sobre a qualidade do ensino na rede pública - se é que a mídia tem algum interesse em promover uma investigação neste sentido...

A entrevista dada pelo diretor da escola à Folha de São Paulo em 04/05 (“Governo do Estado só me atrapalha”) mostra a inabilidade do jornalista Fábio Takahashi, que aumenta um ponto à incompetência do Jornal da Tarde e do Agora São Paulo em suas matérias anteriores. A Folha também não se preocupa em esclarecer aos leitores que os resultados do Enem não refletem a qualidade da escola e perde uma boa oportunidade para fazer a seu diretor perguntas sobre a forma como a escola é gerida. Ficamos apenas sabendo que ele criou um currículo próprio e que dirige a escola há 22 anos sem utilizar os programas do governo. Ele “não vê caminho” para a escola pública, que dependeria de “talentos isolados”. De fato, ele criou uma escola pública “de classe média”, altamente seletiva.

Além de não esclarecer o que foi omitido pelos outros jornais, ou seja, que o resultado do ENEM não vale para chamar a EE Lúcia de Castro Bueno de “melhor escola”, essa entrevista da Folha mostra o ego inflado de um diretor canastrão, como todos aqueles que batem no peito ao falar “minha escola”. Entretanto, ele tem colocações corajosas, como dizer que o "programa de formação” só serve para tirar professor de sala de aula e que o ensino de tempo integral é uma bobagem, pois as escolas nem conseguem cumprir quatro horas diárias, devido às aulas vagas. Seus comentários sobre os modismos e a politicagem dos secretários estaduais nos últimos doze anos é também bastante acertada e nas entrelinhas da entrevista percebe-se que o governo não tem qualquer controle sobre as escolas, para não dizer que a política educacional é proforma. Basta uma escola passar nos testes oficiais, nada se questiona, nem mesmo uma declaração como a desse diretor: “A democracia não se aplica ao ensino”. Em time que ganha não se mexe!... Falta saber quem ganha nesse time e essas são as perguntas que a Folha deixou de fazer a esse diretor: como é feita a seleção dos alunos para admissão na escola? Como é feita a eleição do Conselho de Escola? Qual é o nível de reprovação em cada série?

A mídia continua alienada à questão do ensino público, assunto que não é de seu interesse, já que filho de jornalista estuda na... rede particular.

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