Quem se importa com o flanelinha?


Entre os desaparecidos durante o trágico “Dia das Mães” em São Paulo estava o flanelinha Marcos André da Silva Cruz, um garoto de 14 anos assassinado na zona norte. O Estado de São Paulo de 21/05 relata que a irmã foi buscar informações no IML, sem sucesso. Em suas próprias palavras: “Não tinha porque matar. Não sei se foi a polícia, mas me disseram que ele foi rendido e morreu com as mãos para cima”.

É o tipo de notícia que me fere a alma. Alguém de nós, que temos computador e acesso à Internet, tem um filho flanelinha? Alguém teve um filho assassinado enquanto tentava juntar uns trocados para ajudar em casa? Como se sente a mãe desse garoto, desaparecido em situação suspeita na periferia? Ela terá coragem de aprofundar as buscas, sabendo que o resto de sua família poderá ser vítima dos mesmos criminosos?

Não se trata aqui dos atentados do PCC ou de uma situação específica. Se trata das condições da infância e juventude em São Paulo, onde os faróis estão cheios de flanelinhas, de crianças e adolescentes fazendo exibições de malabarismo para ganhar uns trocados, arriscando ser atropelados ou mortos a qualquer momento. Não dói na alma ver uma criança se exibindo num farol por dinheiro, quando aqueles jogos deveriam ser sua brincadeira de quintal?

Isto é São Paulo, onde o apartheid é visível somente nos faróis e nas poucas favelas que se avistam das avenidas e estradas principais de acesso à cidade. O imenso “favelão” que é São Paulo está isolado das áreas centrais e é invisível aos nossos olhos de gente que mora em casas sem goteiras, com chuveiro quente e agasalhos suficientes para os filhos não tremerem de frio durante a noite. Esses garotos de periferia às vezes andam quilômetros a pé para encontrar um farol ao qual possam ter acesso, pois se trata de “territórios” divididos por gangues. Isto é São Paulo: o lugar de onde as crianças e adolescentes mais necessitados são expulsos da escola e ficam apenas com duas opções, pedir dinheiro nos faróis ou se filiar à criminalidade. São Paulo: o campeão nacional da exclusão escolar!

Que o menino Marcos André, desaparecido entre tantos outros que tiveram a infância roubada nesta cidade sem alma, seja abençoado onde estiver, e que nos perdoe a omissão!

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