Quando a direção da escola faz a diferença!




O movimento das Escolas de Luta em 2015, aqui no Estado de São Paulo, envolveu alunos de mais de mil escolas e conseguiu, no mínimo, desmascarar os verdadeiros intuitos da pretensa nova reestruturação da rede estadual paulista. Nova, porque já houve uma primeira, na década de 90, que resultou no fechamento de centenas de escolas, turnos e classes, além de desestruturar famílias e produzir o famigerado sorteio de vagas, uma das piores pragas do ensino público em todo o país.

A nova reestruturação pretendia conseguir o que não foi possível durante a primeira, ou seja, acabar de esvaziar a rede estadual e entregá-la de mão beijada à iniciativa privada. Mas a atuação dos alunos das escolas de luta abortou a manobra, embora muitos estabelecimentos estejam sendo esvaziados na surdina, com o fechamento de turmas e turnos.

Infelizmente, a atuação truculenta da polícia durante as ocupações, e as manobras que fizeram os diretores mal intencionados, jogando pais e alunos uns contra os outros, enfraqueceram demais o movimento. Este ano letivo iniciou numa paz apenas aparente, pois na maioria das escolas de luta começaram as perseguições e represálias contra os alunos protagonistas das ocupações. Se geralmente já basta qualquer motivo fútil para promover a perseguição de alunos nas escolas estaduais de São Paulo, este ano a dose aumentou dramaticamente. Não vamos aqui apontar esses casos e atirar mais lenha na fogueira, pois a perversidade das escolas no combate aos alunos que ousam contrariar o sistema é simplesmente maquiavélica. Isto, porém, não tira em absoluto o mérito daqueles alunos que tiveram a coragem de encabeçar e participar do movimento, numa atitude de protagonismo inédito dentro de uma rede que visa e muitas vezes consegue imbecilizar nossas crianças e jovens.






Numa das escolas da capital paulista, os desdobramentos da ocupação foram altamente positivos e é um enorme prazer constatar esse progresso. Trata-se da EE Saboia de Medeiros, que havia sido condenada ao fechamento e este ano teve inclusive aumento do número de alunos.

O Saboia, como é conhecido na Chácara Santo Antonio, contou com um diferencial praticamente único nas escolas de luta da capital: sua diretora, Profª Denise, apoiou claramente a ocupação, sem se preocupar com as retaliações da Secretaria da Educação, nem com possíveis prejuízos na carreira ou na aposentadoria, que fazem parte das chantagens do sistema contra os profissionais que ousam apoiar os alunos contra o autoritarismo da rede, que é praticamente geral.

A Profª Denise continua à frente da escola e os muros externos exibem este ano a prova da sua criatividade: reaproveitar as carteiras antigas, que na maioria das escolas costumam ser simplesmente jogadas fora, para o estudo da arte e da geometria.

Um dos maiores problemas da rede pública, em todo o país, são diretores de escola buRRocráticos e preocupados apenas em manter seus privilégios, sem qualquer compromisso com a qualidade do ensino e com o aluno. Se eu tiver que dar um único conselho aos alunos das escolas públicas, seria o seguinte: espelhem-se no exemplo do Saboia, uma escola que seus alunos conseguiram manter de pé e cuja diretora os apoiou durante e após a ocupação. Unam-se e exijam das Secretarias da Educação a demissão dos diretores que só servem para fazer número e intrigas contra os alunos. Cobrem a eleição direta dos diretores de escola!

Em tempo: não podia deixar de postar este vídeo divulgado pelo deputado Marcelo Freixo. Trata-se de um depoimento corajoso e maduro da aluna Elaine Melchiades, do CIEP Glauber Rocha, em Nova Friburgo, um dos colégios ocupados no estado do Rio de Janeiro. Elaine falou em nome dos estudantes do CIEP e foi buscar a instância certa para fazer suas reivindicações: a Comissão de Educação. Se alunos de todas as escolas brasileiras lotassem as comissões de Educação das Câmaras e Assembleias Legislativas de suas cidades e estados, "nossos" representantes seriam, no mínimo, obrigados a trabalhar!... Parabéns, alunos do CIEP Glauber Rocha, e principalmente para a Elaine, que soube representá-los de forma brilhante. Esses vereadores e deputados, que infestam as casas onde deveriam acolher o povo, não perdem por esperar. Como prevê Bemvindo Sequeira, quando estiverem a sete palmos do chão, quem finalmente governará o país serão os alunos das escolas ocupadas, as Elaines e Ana Júlias!


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