Foi um prazer e um privilégio compartilhar com os alunos das escolas de luta algumas horas deste final de ano, que marcou sua tomada de posse daquilo que já era deles por direito. Agora o é de fato!
Neste dia 21, mesmo debaixo de chuva, os alunos da rede estadual realizaram mais uma manifestação contra a “reorganização” das escolas. Eles estão certos, pois a suspensão do projeto, prometida pelo governador, é altamente suspeita. Ele deixou bem claro que vai passar o próximo ano discutindo e avaliando a realidade de cada escola com a comunidade, “especialmente com os pais de alunos”...
Para bom entendedor, meia palavra basta! Isto significa que
o ano letivo já irá iniciar com uma terrível lavagem cerebral sobre os pais de
alunos, tentando colocá-los contra os próprios filhos, que por sua vez acabarão
se desentendendo com os próprios colegas, que então poderão se voltar contra os
próprios pais... Tradicionalmente, esta é a técnica "de guerrilha" utilizada pela
secretaria da educação para garantir o status quo dentro da rede.
Os alunos têm
portanto todas as razões para questionarem a suspensão do projeto, e esta
última manifestação colocou em evidência uma das condições que os alunos
impuseram ao governador para desocuparem as escolas, mas que ele ignorou
solenemente: a punição dos policiais que usaram de truculência durante as
manifestações de rua e as invasões das escolas ocupadas.
O ato iniciou no Masp com muita animação, mas a chuva
impediu que muita gente seguisse os manifestantes, que caminharam pela Paulista
e foram descendo a Consolação. Contudo, um número absurdo de policiais,
desproporcional ao tamanho do ato, caminhava na retaguarda, enquanto a tropa de
choque marchava enfileirada do lado esquerdo da avenida. O que desejava o
pelotão?... Um pretexto qualquer para atacar esses jovens e seus apoiadores,
como tem ocorrido em praticamente todas as manifestações contra o governador
Geraldo Alckmin.
Os estudantes se sentiram acuados e começaram a gritar
palavras de ordem: “Sem violência!”, “Não acabou, tem que acabar, eu quero o
fim da polícia militar!”. Uma comissão de mães que apoiavam o ato foi
caminhando estrategicamente na frente do pelotão, e isso pode ter ajudado a
inibir a truculência policial, geralmente gratuita e devida à impunidade.
Chegando na Praça da Sé, os manifestantes encerraram o ato de
forma pacífica, reiterando suas reivindicações: que a “reorganização” seja
cancelada, que os alunos das escolas de
luta não sejam perseguidos, que haja punição dos policiais que cometeram abusos
durante as manifestações de rua e as invasões das escolas ocupadas.
Mas o governo do estado age de forma sorrateira, os alunos
que ocuparam as escolas já estão bem “marcados” e vejam o que ocorreu após o
final do ato, na Estação Sé do metrô, ou seja, a poucos passos de onde terminou
a passeata... porém longe dos olhos de quem estava filmando e fotografando tudo:
um aluno da Fernão Dias, uma das escolas ocupadas que ficou em evidência na
mídia, foi covardemente espancado, junto com outros estudantes, por alguém que devia estar
em contato telefônico com o pelotão do Geraldo. Os PMs que estavam na
superfície não devem ter se conformado com a falta de pretexto para atacar os
alunos, assim delegaram a empreitada para os seguranças do metrô, que agiram no
subsolo.
Essa brutalidade tinha tudo para ficar impune, mas um vídeo
dos Jornalistas Livres mostra claramente a hora do espancamento e identifica um
dos agressores do estudante, tão ou mais conhecido do que o aluno que foi sua
vítima! Trata-se do “Segurança-gato do Metrô”, assim chamado e aclamado por
aquele lixo jornalístico que é a revista Veja São Paulo, na edição de 29/03/14. Assistam a esse vídeo e leiam toda a matéria
dos Jornalistas Livres, que dá nome e sobrenome para esse funcionário “exemplar”
do Metrô...
Tudo isto reforça a urgência do pedido dos alunos das escolas de luta: é preciso acabar com a militarização da polícia e dos demais órgãos “de segurança” do estado! E o episódio de hoje mostra também a urgência de se proteger os estudantes que ocuparam as escolas, das represálias que sofrerão durante o próximo ano letivo, quando a estratégia de “guerrilha” do Geraldo vai tentar colocar contra eles a comunidade escolar e até seus próprios pais!
Esses alunos precisam de proteção especial das entidades de
direitos humanos, para não serem vítimas de perseguições e represálias, mas também
para poderem expandir, em suas escolas e comunidades, a consciência de
cidadania que conquistaram durante as ocupações. Em algumas escolas, por terem
livre circulação nos prédios, os alunos descobriram indícios de irregularidades
que precisam ser apuradas e que os diretores, supervisores e dirigentes de
ensino tentarão provavelmente abafar de todas as formas, abrindo “apurações”
que costumam incriminar as vítimas e envenenar o ambiente escolar... Quem
conhece a rede pública por dentro sabe como este assunto é sério!
Por isso todo cuidado é pouco. Esses alunos precisam receber
todo apoio possível e o próximo ano letivo tem que entrar com o pé direito,
começando com um ato revolucionário que só esses alunos de luta poderão
finalmente garantir: a eleição democrática do Conselho de Escola. Esse órgão
tem servido apenas para dizer amém aos desmandos da direção e para expulsar
alunos, pois seus membros não costumam ser eleitos, mas escolhidos a dedo pelos
diretores. Isto precisa mudar com urgência! Os alunos, os pais, os professores
e os funcionários das escolas merecem eleger seus próprios representantes, numa
eleição democrática e sem interferências da direção. O diretor de escola,
infelizmente, é por estatuto sempre o presidente do Conselho, mas ele não pode
nem deve estar presente em nenhuma das salas onde os alunos, os pais, os
professores e os funcionários elegem seus representantes!!!
Os estudantes sabem que têm sido excluídos desse processo,
pois visitei algumas ocupações e nenhum dos alunos com quem falei havia participado da eleição do Conselho da própria escola. Então, estudantes da rede estadual de São Paulo, vocês que já demonstraram muita coragem, não se deixem intimidar pelo
autoritarismo do sistema e participem do Conselho de Escola! Informem também a
seus pais a importância de elegerem os próprios representantes, pois
vocês, alunos e pais, representam a maioria da comunidade escolar, não é justo
que sejam ignorados pela direção.
O Conselho de Escola deveria decidir como empregar as
verbas, deveria fiscalizar o trabalho das APMs, organizar o ano letivo,
decidindo por exemplo atividades pedagógicas, programas culturais etc. Vocês,
alunos, já foram chamados para opinar
sobre essas questões?... Pais, alunos, professores e funcionários, junto com o
diretor, deveriam formar o corpo gestor da escola, mas o que ocorre, na grande
maioria dos colégios paulistas, é puro autoritarismo. Vocês, alunos, que deram
mostra de tanta coragem, pensem nisso durante as férias. Entendam como deveria funcionar a gestão compartilhada da escola, estudem o
assunto e exijam sua efetiva participação. Assim, vocês estarão ocupando suas
escolas de fato e de direito, durante todo o ano letivo!
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