Mídia nota zero, a série IX - Parabéns, Boris Casoy!


Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho...

Essa frase foi dita pelo âncora do Jornal da Band, Boris Casoy, e vazou sem intenção durante o programa, no último dia do ano. As risadinhas que acompanharam a frase não deixam dúvidas sobre o sentido da fala.

Foi um acontecimento importante, que mostrou duas coisas:
  • A hipocrisia da mídia, tentando fazer média com quem despreza.

  • O real desprezo do formador de opinião pelo cidadão de "segunda classe".

Boris se desculpou no dia seguinte e o fez de forma adequada: não tentou enganar o público com uma conversinha de que "não era bem o que pensava", ele apenas declarou que foi uma frase "infeliz".

Pena que os garis aceitaram as desculpas. Eles poderiam plantar-se em frente ao prédio da Band e pedir a demissão do jornalista. Mas, como isto é Brasil, provavelmente quem perderia o emprego seria o técnico que deixou vazar o áudio, rsrs. Para não dizer que a própria emissora demitiria o profissional, se não concordasse com sua fala.

Os garis não reagiram à ofensa, da mesma forma como não exigem a demissão dos diretores de escola, dos professores e demais profissionais da "educação" que xingam e humilham seus filhos, que os largam na quadra batendo bola durante as aulas vagas, que não os socorrem quando se machucam, que gritam com eles se não entendem explicações dadas com má vontade, que se recusam a repetir o que falaram ou a corrigir seus cadernos, que os expulsam quando são irreverentes ou repetentes, exemplos vivos de sua própria incompetência pedagógica e profissional.

Parabéns, Boris! Com uma única frase você demonstrou o que tentamos provar há vinte anos: a ojeriza dos formadores de opinião e da classe média/alta brasileira por aqueles que não estão no seu "nível", aqueles que estão dependurados em vassouras, seja nas ruas, seja em residências de alto padrão, varrendo o lixo produzido pelo excesso de consumo desnecessário, trocando a fralda de bebês que suas próprias mães têm nojo de limpar.

Os "mais baixos na escala do trabalho" têm seus filhos na rede pública de ensino. É por isso que os "mais altos" inventaram, no Brasil, a rede particular. Porque não querem misturar seus filhos, certo como dois e dois dão quatro. E a mídia é a ferramenta ideal para manter essa distância: não se fala das enormes verbas da educação desviadas ou manipuladas, não se fala dos prédios escolares que mais parecem presídios, não se fala da aula vaga, que diminui o ano letivo em 30 a 40%, nem do nível do ensino, pior que o de muitos países de IDH mais baixo.

Não: a mídia não fala da vergonha internacional que é a nossa educação, ela fala do aluno da rede pública, o filho do gari, do pedreiro, do eletricista, do vigia, do pequeno comerciante. E fala mal: ele é o culpado pelo baixo nível de ensino, ele é o baderneiro, o elemento perigoso que agride professores e colegas, ele é o criminoso em potencial que precisa ser detido já nos bancos escolares. E assim a escola fica às vontade para chamar a radiopatrulha para resolver os mais simples casos de indisciplina.

Pronto! O que Boris Casoy falou nos bastidores do seu programa é o que os alunos da rede pública de ensino ouvem diariamente em suas escolas, a seu respeito e sobre seus pais. As escolas públicas deste país são BASTIDORES da vida infantil e juvenil dos quais nada vaza! A "merda" falada e feita por diretores, professores e demais profissionais da educação permanece no próprio ambiente e ái de quem se atrever a divulgá-la!

O que mais dói é ver mães e pais humildes agradecendo e levando presentinhos para a diretora que distrata seu filho ou para o coordenador "pedagógico" que rasgou seu caderno. Isto também é obra da mídia: da importância exagerada que se dá àquele pedaço de papel, o diploma, sem esclarecer que, na maioria dos casos, trata-se do atestado de incompetência de uma escola quase inútil para o que deveria servir. O gari, o pedreiro, o eletricista, não têm condições de mudar seus filhos de escola, no máximo poderão matriculá-los em outra unidade próxima, onde possivelmente serão perseguidos pelos mesmos profissionais...

Se o ano já iniciou com a repercussão de mais um deslize da mídia, o que será que vem pela frente?

EM TEMPO: segue um link para reportagem da Folha Online que mostra o vídeo em que Boris Casoy comenta sobre os lixeiros. Já recebi um e-mail duvidando do tom da fala do jornalista... http://www1.folha.uol.com.br/folha/videocasts/ult10038u673580.shtml

Comentários

Unknown disse…
Grande texto, parabéns.

Essa coisas não deviam ficar esquecidas.
Edson F. disse…
Deus! O que comentar. Não resta mais humanidade sobre a terra.
Quanto orgulho e soberba.
Anônimo disse…
A minha admiração pelo pessoal do CQC acabou, aida tô em dúvida se vou continuar vendo o programa ou não, tô com o olho torto e decepcionado pra eles.

Eles omitiriram na boa a declaração do velhote fascista Bóris Casoy, e por bem menos eles zoam os engravatados, mas como esse engravatado é da Band né...

Não consigo botar pilha e dar audiência para reacionários, que triste hein CQC...

O nome Custe o Que Custar deixou de ser apropriado agora.