Os imexíveis


No serviço público e principalmente na educação, existem “mistérios” que só a burocracia e a corrupção explicam. Certos maus profissionais são imexíveis, mesmo quando relapsos, incompetentes ou até ausentes, mesmo que cometam erros graves ou até crimes. Nós, reles mortais, que precisamos mostrar competência, pontualidade, assiduidade e ética no trabalho, não conseguimos entender esses “privilégios”.

O primeiro motivo pelo qual isto acontece é o corporativismo da classe, onde reina a lei do silêncio. Nenhum profissional da educação depõe contra outro, a não ser em raríssimos processos administrativos arrastados propositalmente até não dar em absolutamente nada.

O segundo motivo é o medo que os pais e alunos sentem ao denunciarem o mau comportamento dos profissionais. Diferente de um hospital, onde os pacientes são atendidos de forma esporádica, os alunos de uma escola permanecem, no mínimo, um ano inteiro “aos cuidados” de profissionais que lançam mão dos meios mais sórdidos para se vingarem dos pais ou alunos que se atrevem a denunciar seu mau comportamento.

O terceiro motivo é o apadrinhamento, talvez a maior praga do serviço público no país. Os profissionais imexíveis, aqueles que ninguém consegue abalar ou que até conseguem um upgrade após cometerem erros absurdos, são geralmente cabos eleitorais de muita expressão. Entende-se por isso aqueles que conseguem muitos votos. Teoricamente, é proibido fazer campanha eleitoral em locais públicos, inclusive nas escolas, mas eu mesma retirei muitos panfletos, santinhos e outros materiais de propaganda eleitoral dos quadros de avisos das escolas onde meus filhos estudavam. Isso é apenas a ponta do iceberg, aquilo que aparece. A classe docente constitui uma das maiores bases eleitorais do país e seus profissionais são formadores de opinião. Não é à toa que a cada troca de governo ou de secretário os profissionais que ocupam cargos de confiança são trocados e isso provoca uma “dança das cadeiras” que impede às escolas terem diretores e supervisores de ensino competentes e dedicados durante anos. Os critérios de escolha são outros e isso impede que os bons projetos educacionais tenham continuidade. Nossa preocupação com respeito à escolha dos vinte mil novos coordenadores pedagógicos a serem contratados na rede estadual de São Paulo é justamente esta. Não podemos acreditar que a mudança de critério, retirando dos Conselhos de Escola o direito à escolha final dos profissionais, seja ingênua ou apenas autoritária. Trata-se, mais provavelmente, de uma manobra para fins eleitoreiros. Infelizmente, os governantes eleitos pelo povo não se preocupam em cumprir com suas promessas ou obrigações, seus olhos estão sempre voltados para a reeleição ou para acordos e conchavos escusos firmados em época eleitoral.

Comentários

Anônimo disse…
É ate complicado falar, toda vez que entro no site, fico assustado, aonde vamos parar, que tipo de ser humano as escolas estao formando? se essas crianças nao tiverem um bom lar, pode ter certeza que seus futuro seram tenebroso.
o que fazer, quando apenas pouco se preocupam e lutam para tentar melhorar e muitos lutam contra para atrapalhar.
Giulia disse…
Olá, anônimo, não é para ficar assustado, é para tomar conhecimento do que acontece no sistema educacional e a mídia não informa. O Brasil não conhece o Brasil. A escola pública é um lugar conhecido por dentro apenas pelos alunos e seus pais. Por que você acha que os professores pediram para criar uma lei proibindo o celular dentro das salas de aula?
Porque celular fotografa, filma, grava...
Quanto à questão do apadrinhamento, é um assunto tabu muito difícil de ser levantado. E os políticos ficam totalmente à vontade na certeza de que nada vai atrapalhar seus conchavos.
Ah! Você sabia que em cada gabinete de vereador e deputado trabalha pelo menos um (ou mais!) professor? São os "assessores educacionais", muitas vezes comissionados nesses gabinetes, ou seja, faltando na escola para atender os políticos...
Anônimo disse…
Ou seja, "TAMÔ FERRADO!"
Giulia disse…
Claro que não! Bastariam duas ações:
1. Um Conselho de Escola democrático, ou seja, os pares elegendo seus pares. Assim, seria muito mais fácil denunciar as irregularidades.
2. A mídia se interessar pelo que ocorre DE FATO dentro das escolas públicas, o que é um pouco difícil, pois filho de jornalista estuda na rede particular... O que interessa para a mídia são imagens fortes como escolas destroçadas, caixa d´água contaminada (que também tem de montão, mas ninguém denuncia...) etc.
Se as denúncias pipocassem, a comunidade ficaria mais à vontade para relatar o que se passa.

Numa das escolas dos meus filhos houve um caso "interessante": a reforma dos banheiros foi feita de forma precária e no ano seguinte reiniciou: a empresa que ganhou a licitação subempreitou para uma segunda, que subempreitou para uma terceira que "contratou" dois pobres diabos para terminar o serviço, fornecendo-lhes materiais de péssima qualidade. Nós pais conseguimos descobrir o que ocorreu a duras penas, pois a direção colocava panos quentes na situação.
Levamos o assunto para a Comissão de Educação da Assembléia Legislativa, que fez uma visita à escola. Pensamos: agora vai! No dia seguinte a diretora da escola me chamou, chorou, se descabelou e até desmaiou. Disse que aquilo fora uma traição, que onde já se viu não termos confiança na atuação dela...
A história acabou assim: a reforma foi concluída às pressas, pois o ano já estava acabando, a diretora "sumiu" da escola (foi substituída no ano seguinte), mas, quando fomos checar a situação, vimos que ela NÃO HAVIA ASSINADO a conclusão da reforma, ou seja, se houvesse algum problema com os encanamentos, ninguém seria responsável. Esse tipo de situação acontece aos montes nas escolas e ninguém supervisiona! Se a mídia tivesse interesse em acompanhar esses casos, seria meio caminho andado para alertar a comunidade sobre a forma correta de cobrar solução para os problemas...
Anônimo disse…
Amigas, estou adorando as ilustrações, e os textos mais ainda. "Baixar o nível' foi ótimo, só que para atingir os "sofredores", foi muito pouco, tem que baixar mais ainda. Vocês viram ao ponto a que chegam de jogar livros no lixo? Quem me alertou foi o Roberto Balestra, postei no meu blog.