Alunos de elite

O aluno Thiago, de São Paulo, sugeriu comentar matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo em 27 de dezembro passado. Eu havia visto a matéria, mas o assunto passou batido devido à correria do final do ano.

Mas o Thiago tem razão: o assunto é importante!
Como a própria matéria já esclarece, o MEC selecionou os 149.430 alunos da rede particular melhor colocados no ENEM de 2006 e os 140.430 melhor colocados da rede pública, comparando os resultados dos dois grupos. A surpresa foi que os alunos da rede pública tiveram resultados melhores!


Caro Thiago, agradeço demais a dica, mas vou deixar os comentários para os leitores do blog, na esperança de que não apareçam muitos chavões do tipo: “Os alunos da rede pública tiveram bons resultados porque têm família estruturada” ou “O mérito é dos professores sofredores”...

Tenho sentido falta de uma discussão mais profunda aqui no blog.

Aviso também que, a partir de agora, os comentários estarão sujeitos a aprovação. É uma pena, mas o nível de certos leitores “anônimos” estava barateando demais a discussão.

Uma curiosidade: o Thiago que deu a dica não é o aluno Paulo Thiago mencionado na reportagem. Trata-se de uma coincidência.

Elite da rede pública vai melhor no Enem do que alunos da particular
Renata Cafardo

Os melhores alunos da escola pública tiveram nota maior que os estudantes da rede particular no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Estudo feito pelo Ministério da Educação (MEC), e obtido com exclusividade pelo Estado, mostra que a diferença na média passa dos nove pontos na prova de redação. Na prova objetiva, o grupo da rede pública teve nota 68,77, enquanto o da particular ficou com 68,72.

O estudo considerou os 149.430 alunos de escola privada que concluíram o ensino médio em 2006 e participaram do exame. As notas desse grupo foram comparadas às dos 149.430 melhores formandos da rede pública.De acordo com o ministro da Educação, Fernando Haddad, a intenção era a de analisar dois grupos com o mesmo número de alunos, já que o total de participantes da rede pública é muito superior ao da particular. "É equivocado dizer que a escola particular é uma elite com relação à pública porque também dentro da escola pública há uma elite", afirmou o ministro.

Os números mostram que a maioria desses alunos está nas regiões Sul e Sudeste e a maior parte deles, cerca de 41 mil, no Estado de São Paulo. Mas o Rio Grande do Sul tem a maior proporção de estudantes (32,7%) entre os que participaram da prova que estão entre os melhores da rede pública. "É preciso lembrar que há muitas curvas de qualidade na escola privada também", disse a educadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria Beatriz Luce. Segundo ela, os gaúchos têm ainda a vantagem de morarem em um Estado com histórico de investimento na educação e de melhor titulação de seus professores. Os estudantes do Rio Grande do Sul também tiveram média superior à brasileira na avaliação internacional Pisa, cujos resultados foram divulgados no início do mês, e foram ainda um dos melhores do País.

ESFORÇO INDIVIDUAL
O estudo realizado pelo MEC chama a atenção porque, tradicionalmente, estudantes de escolas públicas se saem pior em exames como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), Pisa e o próprio Enem. Se forem consideradas as notas médias gerais dos 602.232 concluintes do ensino médio público que participaram da prova neste ano, o desempenho foi mais de 20 pontos abaixo do registrado entre alunos da rede particular. "O resultado agora mostra o esforço pessoal do aluno", diz a educadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Maria Márcia Sigrist, sobre o estudo do MEC.

INICIATIVA
Paulo Thiago Ministro dos Santos, de 17 anos, acertou 93,65% da prova do Enem. "É só pensar", diz ele. Filho de uma dona de casa e um metalúrgico, Santos estudou a vida toda na rede pública e fez o ensino médio numa escola estadual em Pinheiros, zona oeste. "Não acho a escola tão boa, aprendo muito lendo notícias na internet", conta ele. Para a estudante Silvia de Siqueira Souza, de 17 anos, "há alunos bons e ruins na escola pública e na particular". Ela teve a mesma nota que Santos no Enem e espera que isso ajude a conquistar uma vaga no Programa Universidade para Todos (ProUni), que dá bolsas a alunos de escola públicas em instituições privadas em troca de benefícios fiscais do governo.Quanto mais alta a média do Enem mais chances o aluno tem de ganhar a bolsa. Silvia espera conseguir estudar Administração de Empresas na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) por meio do programa. A criação do ProUni foi um estímulo para aumentar o número de estudantes que fazem o Enem. A prova começou a ser aplicada em 1998 de forma voluntária para alunos que terminaram o ensino médio.

Leia também o editorial de O Estado de São Paulo de 01 de janeiro, a respeito dessa matéria.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080101/not_imp103023,0.php

Comentários

Ricardo Rayol disse…
sei não, considero toda comparação de resultados oriunda do governo maceteada. Vai que numa prova diz quanto é 1+1? e na outra quanto é a raiz quíntupla exponencial do terceto esquerdo da hipotenusa?
Anônimo disse…
Talvez não tenha muito com a matéria publicada, mas achei que vocês gostariam de saber que sobre uma iniciativa interessante para atrair os pais para o conselho.

"Concurso anima eleição dos
Conselhos Escola Comunidade"

A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro/SME lançou um concurso de imagens e slogans para animar a eleição dos Conselhos Escola Comunidade deste ano. Na categoria imagens poderão participar os alunos da rede municipal, enquanto a categoria slogan está aberta a professores, funcionários e responsáveis pelos alunos. As criações deverão ser enviadas às Coordenadorias Regionais de Educação até 7 de março. Cada escola municipal elegerá seu conselho em abril. Estas chamadas estão em jornais, portas das escolas e na internet. Só não participa quem não quer.

Dani
Giulia disse…
Oi, anônimo, onde foi publicada essa matéria?
Anônimo disse…
Esta no síte da Prefeitura, no Jornal Extra, no D.O. da Prefeitura
e principalmene nas escolas.
Danielle
Giulia disse…
O que me chamou a atenção, nesse estudo, é que entre os novos universitários há, no mínimo, 280.000 alunos de elite, que poderiam fazer a diferença para o futuro do país. Mas quantos deles irão REALMENTE fazer a diferença? Quero dizer e discutir: do que o Brasil realmente precisa, para finalmente mudar? De mais médicos, engenheiros, advogados, economistas (as profissões preferidas pela elite "tradicional")?...
Anônimo disse…
Boa colocação Giulia.
bjs
Danielle
Anônimo disse…
Esse sonho é só privilégio do rio??

Bira
Anônimo disse…
Giullia, grande mulher!
Olha lá no meu blog o resultado da sua luta ferrenha contra a injustiça na cidade de São João da Bao Vista. uma vez se fez justiça, para dar um pouco de alento a nossa luta tão desigual
PARABÉNS
Giulia disse…
Oi, Danielle, fiz uma busca sobre a eleição dos Conselhos de Escola no município do Rio de Janeiro. Eu estava com muitas esperanças, mas... ainda não foi desta vez! Infelizmente, o Conselho de Escola carioca é apenas CONSULTIVO, ou seja, pode ser consultado mas não participa das deliberações e da gestão da escola. Mas gostaria muito que você nos passasse informações sobre a eleição no Rio. Pensei assim: se aqui no Estado de São Paulo o conselho é deliberativo e mesmo assim existe tanta manipulação por parte dos diretores de escola, imagine se o conselho for apenas consultivo?...
Mas pode ser que eu esteja errada!
Pois é, não vivemos no país onde a lei só serve para papel de embrulho??? Então pensei melhor: se a lei restringe o poder do Conselho de Escola no Rio, mas existe espírito democrático por parte da Secretaria da Educação e da direção das escolas, o conselho pode funcionar muito melhor do que aqui! Aliás, o pior exemplo de Conselho de Escola é na rede municipal de São Paulo. Veja o paradoxo: o Conselho é DELIBERATIVO e ainda por cima O PRESIDENTE NÃO PRECISA SER O DIRETOR DA ESCOLA (ao contrário da rede estadual de São Paulo e da rede municipal do Rio), portanto as condições legais são as melhores possíveis para a participação da comunidade. NO ENTANTO, existem casos como a EMEF Imperatriz Dona Amélia, cujo presidente é um professor que diz amém a todos os abusos da diretora da escola, inclusive permite a perseguição dos alunos filhos de quem denuncia o autoritarismo da direção! A discussão sobre Conselhos de Escola, no Brasil, ainda não começou...