Ensino médio: círculo vicioso


Já apontamos algumas colocações absolutamente ridículas do ministro Fernando Haddad, mas essa da Folha Online de 18/09 é a gota d´água:

De acordo com o ministro, em 2004 o governo apostava que, se as oportunidades de acesso ao ensino superior fossem ampliadas, a qualidade do ensino médio cresceria. Porém, nem o ProUni (Programa Universidade Para Todos) nem a expansão das federais surtiram o efeito pretendido. "Os indicadores, pelo menos até 2005, demonstram que essas iniciativas não têm impactado satisfatoriamente a questão da qualidade."
Haddad afirmou ontem que, agora, a saída do governo para melhorar a qualidade do ensino médio é expandir as escolas técnicas federais --o número de unidades deve subir de 140 para 354 nos próximos três anos.
O ministro defende ainda a discussão de um novo currículo para o ensino médio pois o atual "está um pouco fora de moda".

O ministro chegou à conclusão de que o ensino médio vive uma crise aguda. Aleluia!
E o governo pensava que oferecer maiores oportunidades de acesso ao ensino superior melhoraria a qualidade??? Em primeiro lugar o ProUni é uma farsa, como já comentamos exaustivamente aqui. Mas qual era a idéia? Que os alunos se esforçariam mais nos estudos, pensando que teriam mais possibilidades de entrar na universidade? Como se a qualidade do ensino dependesse da vontade dos alunos!!! E de que forma a existência de 354 escolas técnicas federais poderia dar um salto de qualidade ao ensino médio, em um país de dimensões continentais como o Brasil??? O currículo está desatualizado, Sr. Ministro? Percebeu que o mundo gira? Que nova "moda" pretende implantar agora?...

É por essas e outras que o ensino médio no Brasil é uma terra de ninguém que exclui quase metade da população, entre evasão e expulsão. O "sonho" do ensino universitário é um lugar comum que afeta a sociedade brasileira como um todo, um preconceito que afasta os jovens do ensino e da vida. A maioria dos jovens se daria por satisfeita se pudesse realizar o sonho de ter uma profissão e perspectivas para o futuro. Nem todos os jovens têm real interesse em continuar os estudos, mas são bombardeados com a idéia de que "sem um canudo" irão fracassar na vida. Por outro lado, aqueles que realmente gostam de estudar cruzam com uma maioria de professores desatualizados e desinteressados pela profissão, que usam a desculpa da incompetência governamental para continuar no marasmo.

Quando o governo quis acabar com o ensino técnico e médio integrado, um projeto que poderia ser hoje uma solução em nível nacional, lutamos com unhas e dentes para manter e ampliar a proposta. Mas o bom senso é sempre vencido, neste país. O que prevalece são a incompetência geral e interesses inconfessáveis, como o império dos cursinhos e do ensino "superior/inferior" das universidades particulares.

A omissão governamental é tão grave que contamina todo o sistema educacional e os piores profissionais fazem a festa em todos os níveis. Está assim explicado porque a maioria das escolas de ensino médio são esse BARRACO que você viu no filme mostrado abaixo. E o aluno adolescente é tratado como gado, como você pode ler no texto Cavalo? É a mãe! http://educaforum.blogspot.com/2005/11/cavalo-me.html

Comentários

Anônimo disse…
Giulia, já reparou que eles não tocam nas mazelas no Ensino Fundamental, como se fosse tudo uma maraviha? No entanto, é lá que a exclusão começa e termina, os que ainda vão para o Ensino Médio sõa os sobreviventes do massacre. Ano passado, o diretor da faculdade daqui me ofereceu 20 vagas no curso de Informática para os adolescentes e jovens do meu projeto na periferia. Fiquei toda entusiasmada, além do curso, os meninos iriam frequentar o "templo do saber", conviver com mais jovens e alargar seus horizontes. Perguntei ao diretor quais os requisitos, assim como idade e escolaridade,ele respondeu que o único seria que os candidatos tivessem completado o Ensino Fundamental. Resultado: não havia nem UM adolescente, jovem ou adulto no bairro para fazer o curso, nenhum completara a oitava série, todos foram maquiavelicamente expulsos da escola.
Anônimo disse…
Credo!
"Todos foram maquiavelicamente expulsos da escola"...
Glória, que escola é essa? E o que os pais desses alunos fazem quanto a isso?
Nada?
INACREDITÁVEL...se não for uma mentirinha é claro!
Anônimo disse…
Se já não bastassem as políticas neoliberais que enxugam todos os recursos da Educação, superlotam as salas de aula, enxugam os salários até a beira da fome, uma nova onda apareceu na mídia escrita, a de atacar os profissionais da Educação, tanto de âmbito estadual quanto municipal e culpá-los por tudo de ruim que está acontecendo no Brasil, desde as baixas cifras que se formam nas Universidades, até o altíssimo número de analfabetos funcionais que assolam o Brasil. Soluções ninguém propõe, a nova onda é gritar na mídia, colocar todos na mesma panela e gritar em alto e bom som: "vagabundos".
Claro que isso se deve a esta abertura absurda que certos "educadores" deram aos leigos de dar palpite na área a qual não pertencem, como consultores do MEC e da CNE (economistas e advogados), para depois encabeçar o ataque à nossa cartegoria.
O engraçado é que nenhuma profissão dá este tipo de abertura. Ninguém chega até um médico durante uma operação e diz: "doutor, acho que o senhor deve cortar mais pra baixo"!
Por que na educação todos querem meter o bedelho?

Luciano Luckesi