Música para os ouvidos


Que raridade, um texto tão oportuno e sensato! Para vocês, mais um artigo do professor Luiz Carlos de Menezes, que copiei da seção Pense Nisso, da revista Nova Escola.

Ao valorizar escolas que conseguem promover a boa Educação, ouço depoimentos sobre algumas tão mal qualificadas que sua recuperação faria pouco sentido, pois talvez só se salvasse o prédio - para outro uso. Deixando extremos à parte, há escolas melhores e piores e saber o que as distingue é essencial para aperfeiçoar as redes. Escolas privadas têm custos e benefícios comparados por pais de alunos que conferem o serviço que oferecem. Escolas públicas não estão em regime de mercado, mas é preciso uma contínua verificação da qualidade, que é um direito universal.

Dizem que a nós, brasileiros, falta cultura de avaliação, mas nos envolvemos o tempo todo em julgamentos de campeonatos esportivos, desfiles de escolas de samba, desempenho da economia... Com critérios práticos, estéticos ou éticos, analisamos e contratamos ou dispensamos técnicos, craques, coreógrafos e governantes. Será que não poderíamos ser estimulados a avaliar o desempenho de nossas escolas e garantir um ensino de qualidade para todos? Talvez não sejam necessários informes diários, como a cotação do dólar, mas quem sabe uma reportagem semanal sobre escolas... Provas nacionais são importantes, mas avaliar a Educação em cada escola ou cada município tem de levar em conta condições locais não para relativizar os resultados, mas para identificar e resolver problemas em seu contexto. No Ensino Fundamental, após dois anos de estudo as crianças devem saber ler e escrever bilhetes e calcular o valor de compras por peso. E em mais dois anos todas devem saber estimar uma área ou um volume e relatar por escrito suas experiências e percepções. São habilidades essenciais em todo o mundo, mas há milhões de alunos em muitas de nossas salas de aula que não as possuem (e, como esse é um problema social e crônico, talvez venham a ser os primeiros em suas famílias a possuir). Por isso, pode-se dizer que o trabalho das escolas constrói a cidadania - ou não! Mesmo quando os exames são "só para decidir quem passa", as escolas também estão se avaliando: se muitos forem reprovados, o serviço não foi feito.

Crianças que não aprendem não devem ser punidas, mas orientadas e apoiadas, e o mesmo se aplica a escolas que não ensinam, que devem mudar suas práticas ou receber novas condições de trabalho. As que mostram bons resultados não precisam ser "copiadas", mas tomadas como prova de que diretores, professores e comunidade, unidos em torno de um projeto adequado, garantem a todas as crianças a boa Educação, que é seu direito. Onde essas boas escolas não existem ou são exceções, não se deve dizer que "o buraco é mais embaixo", pois o problema pode estar "mais em cima", na supervisão da rede escolar ou na administração pública, que também precisam ser reformuladas. Em qualquer caso, não podemos nos conformar com Educação pública de qualidade inferior, por ser "gratuita", até porque todos pagamos por ela. Você já pensou de que forma TVs, rádios e jornais ajudariam a avaliar e orientar nossa Educação pública? E governantes e especialistas? E nós, professores, o que podemos fazer? E você? Pense nisso!

Luis Carlos de Menezes é físico e educador da Universidade de São Paulo e acredita que nossa Educação pública deve se tornar referência de qualidade para a construção da cidadania

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