Estadão: seja mais ÃO!


No dia 24/12 publiquei o blog Dá pra ser mais JT?
Hoje estou questionando o Estadão, ilustre genitor do JT. Vão pensar que é discriminação contra o grupo Estado. É não: com a Folha nem tem papo!

O editorial A volta do “participacionismo”, publicado em 04/01, bate feio no projeto do deputado Enio Tatto que propõe a eleição dos diretores de escola pela comunidade. Como se tudo se reduzisse a uma questão partidária! Não é não: nada a favor da família Tatto ou da politicalha petista. Mas a questão da eleição dos diretores pela comunidade é um dos fatores que poderiam tirar a educação do marasmo. Quero falar da minha experiência pessoal como mãe de alunos da rede pública, na época em que me atrevi a matriculá-los numa escola municipal de São Paulo, em 1990, quando o secretário da educação era Paulo Freire. Paulo Freire, senhor editor do Estadão!, um mestre conhecido e respeitado em muitos países de “primeiro mundo”, menos nesta terra de ninguém onde qualquer um dá palpites em educação, sem o mínimo conhecimento.

Pois bem, a diretora da escola era malufista, mas disfarçava muito bem, só fiquei sabendo disto depois que o Maluf foi eleito e ela abandonou a escola para integrar o gabinete da Secretaria Municipal de Educação! Ela disfarçava tão bem que deixava a porta da direção aberta para atender pais e alunos à hora que fosse necessário. Sabe por que? Porque essa era a orientação que vinha de cima: em primeiro lugar, o atendimento à comunidade. Dona Cidinha, esse era seu nome, não teve como burlar a orientação recebida: precisou convocar a comunidade para a eleição do Conselho de Escola com a devida antecedência, organizou uma “campanha eleitoral” em que os pais de alunos ficaram conhecendo outros pais de alunos e até eu, mãe de primeira viagem, acabei sendo eleita, mesmo com poucos votos. Aquele ano e o seguinte foram os melhores de toda a vida escolar dos meus filhos. Mesmo quando o Maluf entrou na Prefeitura, colocando tudo a perder em poucos meses, os mantive na rede pública. A curta experiência de uma escola democrática e de qualidade me incentivou a continuar batalhando até à formatura dos meus filhos. E além!

Quando Dona Cidinha abandonou a escola para a Secretaria, a nova diretora foi eleita pelo Conselho de Escola, da forma mais democrática possível. Isto, na gestão Maluf!!!
Bem que o Maluf tentou revogar esse mecanismo, mas não conseguiu! Outra coisa que o Maluf não conseguiu, foi reduzir a percentagem das verbas do ensino, de 30% para 25% dos impostos e transferências. Ele não conseguiu, mas a Martaxa resolveu esse “problema” de uma única canetada, à luz do dia e sem qualquer constrangimento! Veja, portanto, senhor editor do Estadão, que a questão não é “ser ou não ser PT”, é ter ou não ter compromisso com a educação.

Ora, ora, ora, mas o que os pais entendem de educação para se meter a eleger diretor de escola? Entendem, sim! Aliás, taí uma boa dica para uma matéria ÃO: discutir a diferença entre educação e ensino. Os pais podem não entender de ensino, podem falar ou escrever de forma errada, podem não saber fazer raiz quadrada ou logaritmos, mas entendem de educação. A maioria deles tem “feeling” suficiente para saber se seus filhos estão caindo “nas mãos” de professores ou diretores humanos ou arrogantes, sérios ou charlatães, equilibrados ou descontrolados. Talvez eu deveria dizer: a maioria das mães... Peço perdão pelo “feminismo”, mas é que os pais, geralmente, pouco se interessam pela vida escolar dos filhos e tendem a aceitar sem questionamentos os desmandos de professores e diretores. As mães olham bem nos olhos daqueles a quem vão confiar seus filhos e sabem separar o joio do trigo.

A questão da educação de professores e diretores, numa rede pública sem fiscalização como a nossa, é tão ou mais importante do que a qualidade do ensino. Principalmente porque todo aprendizado se dá pelo exemplo. O que “aprendeu” o aluno Lucas do Campo Limpo (veja o nosso post de 02/01), ao ver sua mãe ser maltratada e humilhada pela direção da escola? Aprendeu a “enfrentar” a diretora, o que lhe valeu uma expulsão, até que conseguimos convencer a Diretoria de Ensino de que o exemplo precisa vir de cima.

Independentemente disso, do que se tem medo ao rejeitar a eleição dos diretores pela comunidade? Ainda se acredita que “São Paulo está à frente de todo o Brasil graças aos concursos públicos”, como afirmou Guiomar Namo de Mello? Todos os índices indicam que o marasmo é o mesmo no País inteiro, aliás, na Prova Brasil São Paulo “apanhou” de diversas capitais do nordeste. Será devido aos concursos públicos?... Portanto, senhor editor do Estadão, vamos pesquisar mais o assunto antes de atirar um projeto à lata do lixo. Aliás, os projetos precisam ser discutidos em seus detalhes e não simplesmente rejeitados com argumentos simplistas ou partidários.

A eleição democrática de diretores de escola poderá dar muito certo, desde que seja respaldada na eleição democrática dos Conselhos de Escola, uma etapa anterior absolutamente ignorada na rede pública. As Secretarias Estadual e Municipal de São Paulo não se preocupam em dar qualquer instrução ou orientação mais específica para que esse processo seja realizado de uma forma minimamente correta ou legal. A imprensa também não dá a mínima bola para o assunto, limitando-se a registrar o costumeiro “caos” do início de cada ano letivo - falta de professor, falta de carteiras, falta de merenda - em vez de registrar o boicote à eleição democrática dos Conselhos de Escola, que poderiam fiscalizar todo o caos e tomar providências efetivas, inclusive elegendo diretores compromissados com a escola. Isto acabaria também com a dança das cadeiras e as indicações politiqueiras!

Aliás, senhor Editor, o Conselho de Escola é um colegiado formado por pais e alunos, mas também por professores e funcionários da escola. Não deixe o seu leitor entender que só os pais e alunos iriam eleger os diretores! E sabe por que os sindicatos estão apoiando o projeto do Enio Tatto? Tchan tchan tchan tchan!... Porque os Conselhos de Escola são hoje totalmente manipulados pelo corpo docente e os representantes dos pais são escolhidos a dedo para dizer amém à corporação...

Senhor editor do Estadão, quer ser mais ÃO? Mande cobrir a eleição dos Conselhos de Escola no próximo ano letivo!

Comentários

Anônimo disse…
Esse blogue é chato demais. ´É muito latim pra poco conteúdo. O que vocês pensam? Que vão salvar a educação?
Vera Vaz disse…
HAHAHA! Só rindo mesmo de um comentário desses...
Anônimo disse…
Quem salva uma vida salva a humanidade.
Quem ensina um aluno ensina a humanidade.

Pois é, Giulia! O Estadão está desinformando seus próprios leitores...
(...) Melhor faria o Estadão se cobrasse os dados objetivos sobre a questão: número de diretores em SP; número de diretores concursados; número de escolas em que estão lotados os diretores efetivos; número de unidade em que o cargo de diretor é exercido por “auxiliar” ou outro profissional; rendimento de cada uma das escolas no SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de SP); e os dados sobre violências nas escolas; etc. Isto sim daria uma boa base para que os leitores do Estadão pudessem opinar conscientemente sobre um ou outro sistema de escolha dos diretores das escolas públicas.

Que tal desafiarmos os órgãos de imprensa a sortearem 10 escolas públicas na Capital e acompanhá-las durante todo o ano letivo de 2007?
Será o BBE - Big Brother Escola!
Será que as escolas aguentam?

S. Paulo, 06/01/2007
Mauro
Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública
http://geocities.com/coepdeolho
Giulia disse…
Desafiar os órgãos de imprensa?! Olha, Mauro, o pobrema é o seguinte: em toda boa família de classe média tem pelo menos uma professorinha que dá aula na rede pública, e cujos filhos estudam na particular. Simples assim! Você acha que no churrasco dominical dos jornalistas, advogados, engenheiros e demais profissionais liberais, as professorinhas não se queixam dos alunos?... Enquanto a escola pública continuar a ser considerada um antro de moleques mal educados pela família, ninguém vai levantar essa bandeira. Muito menos a imprensa. O apartheid vai continuar, pois ainda está muito bem disfarçado.
Anônimo disse…
Giulia,

Você viu a "carta" da Ben~e no Estadão?
"O Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo (Sinesp) parabeniza o Estado pelo editorial A volta do ‘participacionismo’ (4/1, A3), pela forma clara e direta como se posiciona contra o equivocado PL que propõe a eleição dos diretores de escola no âmbito estadual. A história vivenciada no Município de São Paulo aponta claramente que a forma de provimento do cargo de diretor de escola não é fator determinante das relações democráticas dentro do ambiente escolar e pode levar, sim, ao aparelhamento das unidades educacionais, visando ao favorecimento de ambições políticas de grupos organizados em detrimento dos interesses coletivos. "

O Sinesp é o sindicato dos supervisores de ensino.
Será que eles estão "fiscalizando" as escolas?
Ou será que estão fazendo "vistas grossa" em relação às barbaridades das escols públicas?
Giulia disse…
Supervisor?... Qualquer hora te conto umas historinhas legais sobre supervisor.
Clarissa disse…
Se formos a julgar pelos votantes aí no Brasil e pela sua «sabedoria política» a eleger os seus representantes... então sim, podem estar descansados porque as escolas serão muito melhores quando os encarregados de educação escolherem os dirigentes escolares... a por que não também os juízes, os médicos etc... acho que o povo devia eleger todos ...