Pouco se falou da Prova Brasil, realizada em novembro de 2005 para testar os conhecimentos de português e matemática de alunos de 4ª e 8ª Séries em cerca de 640 municípios brasileiros. Participaram ao todo 3,3 milhões de alunos. O pouco que se falou, como sempre, foi de forma genérica, falando em vergonha, vexame, horror... Sim, vergonha, vexame, horror, mas vamos aos fatos, sempre muito nebulosos, pois um jornal fala em percentagens, outro fala em pontos, outro ainda em posição, e assim fica difícil para os poucos interessados ter uma visão clara.
Tentei fazer um resumão, aplicando a velha regra da nota de um a dez, que aliás detesto, mas em falta de outra, vai essa mesmo:
O "Brasil" deve ter tirado em média algo como nota 4,8, ou seja, a nota média de todos os alunos que fizeram a prova deve estar por volta disso, mas não consegui uma base exata para fazer o cálculo. Alguém se habilita?
Mas é em São Paulo que a porca torce o rabo, ou melhor, é aqui o paraíso da anta. Sampa tirou em média 4,5 na 4ª Série e 4,7 na 8ª Série. Pensando bem, não é grande diferença, ao contrário do que a mídia parece querer mostrar, como se a média Brasil fosse uma maravilha. O vexame é o fato de Sampa ser a "locomotiva" do Brasil, em todos os sentidos. Mas a pior nota, provavelmente, seria dos alunos das escolas estaduais de São Paulo, pois a Secretaria negou-se a participar da Prova Brasil, alegando que a rede era grande demais para organizar o exame. As notas, portanto, se referem aos alunos da rede municipal de São Paulo, que pôs sua cara para bater, ou melhor, foi obrigada a participar da prova, enquanto as redes estaduais podiam ou não participar. O fato é que a rede estadual de São Paulo foi a única que optou por ficar de fora...
Mais fatos: Sampa ficou entre o 20º e o 21º lugar entre 26 Capitais brasileiras, atrás de cidades muito mais pobres do Norte e Nordeste, como Teresina, Aracajú e Rio Branco.
Aqui no Estado de São Paulo, a cidade de Barra do Chapéu, com menos de 5 mil habitantes e alto índice de analfabetismo, foi a primeira no ranking da 4ª Série, com em média nota 6. Em quase todos os países do mundo, nota 6 é o mínimo indispensável para passar de ano "raspando". Portanto, coloco minhas barbas de molho ao ler a reportagem do Estadão de 07/07, segundo a qual essa nota indica que os alunos são capazes de perceber o sentido de uma metáfora, ler gráficos e resolver problemas com quilogramas e moedas. Adoraria que fosse verdade, mas dá pra confiar?...
Não acredito em notas, conceitos e avaliações que não são feitas olho-no-olho por professores competentes e compromissados. Detesto pensar que a escola, ainda hoje como nos meus tempos de criança, serve para tirar nota e passar de ano. Uma escola burra, que não sabe aproveitar a riqueza da vida para cultivar a inteligência e a sensibilidade da criança. Uma escola "castradora das vocações", como dizia o saudoso Plínio Marcos. E, principalmente, uma escola que faz questão de excluir os diferentes, os mais necessitados e os mais inteligentes.
A Prova Brasil, portanto, serviu somente para avaliar a incompetência do sistema educacional brasileiro e da sua classe docente. Menos a da rede estadual de São Paulo, que espertamente tirou o seu da reta...
Comentários
O Prova Brasil teve boa repeecussão aqui no Rio inclusive com matérias diárias no RJTV da Globo abordando as escolas fluminenses que mais se destacaram. parece que o resultado aqui foi muito bom. Mas claro que falta uma análise comparativa com a rede privada. mas é muito preocupante como vc mesmo disse o desempenho ruim das escolas de São Paulo. E é uma coisa que eu estranho. Costumo ir sempre São paulo por ter parentes aí. O engraçado é que sempre tive a convicção que tudo aí é melhor. Desde o atendimento no Supermerdado atá a segurança pública. Talvez não sejam possiveis deiferenças de conteúdo programático a explicação para este desempenho ruim? É só uma especulação. Abração
Mas, a corporação é tão forte que impede que as notas "por escola" sejam divulgadas ao alunos, pais e comunidade.
A vergonha, o vexame e o horro ficam por conta dos pais, pois as autoridades já sabem disso há muito tempo, mas jogam tudo para debaixo da urna, digo do tapete.
Mauro
Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública
Mas, a corporação é tão forte que impede que as notas "por escola" sejam divulgadas ao alunos, pais e comunidade.
"A vergonha, o vexame e o horror" ficam por conta dos alunos, pais e comunidade, pois as autoridades já sabiam disso há muito tempo.
As "ôtoridades" jogam tudo para debaixo da urna, digo do tapete.
Mauro
Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública
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