Quando José Pacheco explica as coisas com uma infinita candura dura tudo parece ficar muito claro... Divido com vocês esse prazer! Aqui e no educaforum - os textos hoje é dia de José Pacheco falar. Confiram!
__________________________________
"Preocupa-me que haja professores que não consigam ensinar. Mas preocupa-me ainda mais o que ensinam. Ainda que de tal possam não ter consciência, transmitem valores. E, em função do deu sistema de crenças e valores, vão impregnando os alunos de solidariedade ou umbiguismo, de autonomia ou conformismo. Já dizia o Jung que, por força destes desmandos, todos nascemos originais e morremos feitos cópias...
Já deparei com personalidades moldadas numa concepção imutável de sociedade. Mas também conheci professores que consideravam ser possível prever a evolução das dinâmicas sociais e o modelo de cidadão adulto, vinte anos após a “formatação” cívica operada pela escola. Amiúde, leio em manuais escolares a expressão “educar para a cidadania”. Se bem entendo o sentido da frase, tratar-se-á de moldar o indivíduo numa lógica de sequencialidade regressiva, treinando-o, agora, para um posterior desempenho social, que se crê, por sua vez, ajustado a um determinado modelo de sociedade futura. Exactamente no estilo do faz-de-conta-que-já-somos-para-sermos-quando-formos, que acaba sendo um exercício que é fim em si próprio.
A educação será para a cidadania ou na cidadania? Não se trata de uma subtil diferença ente a palavra na e a palavra para. A primeira ser contracção de preposição e artigo e a segunda se apresentar como preposição simples são questões de somenos importância. Importante é o espírito da coisa, pelo que prefiro a expressão “educar na cidadania”, no hic et nunc do drama escolar. Fazemo-nos no que fazemos. Aprendemos cidadania, como tudo o resto, no devir que já somos no aqui e agora. Mas onde estão os espaços de exercício de uma liberdade responsável? Se nem os professores a exercem, como poderão ensiná-la? Assim como é absurdo pensar que, nas universidades, se ensine “métodos activos” em aulas caracterizadas pela passividade, também é inútil pensar que a cidadania pode ser ensinada em aulas expositivas amaciadas pela análise de dilemas, ou por via de discursos de moralidade duvidosa e eficácia nula. Não vamos lá com sermões…
Há escolas onde tudo é negação da cidadania. Nessas escolas, a solidão dos professores é da mesma natureza da solidão dos alunos, que passam de sala em sala, no ritmo pautado por uma campainha, e deparam com professores afáveis ou permissivos, uns exigentes, outros autoritários (para estes, parafraseando a Patrícia, o ser humano é nada, somente as regras são importantes e devem ser seguidas a qualquer preço). Não saberão que a cidadania, como a pedagogia, se aprende a par e é exercida com os outros? Se os professores estão sozinhos, encerrados em salas de aula, entregues às suas certezas e disfarçando angústias, que espaços de exercício de cidadania as escolas disponibilizam? "...
____________________________
Para ler o texto completo http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4514
__________________________________
"Preocupa-me que haja professores que não consigam ensinar. Mas preocupa-me ainda mais o que ensinam. Ainda que de tal possam não ter consciência, transmitem valores. E, em função do deu sistema de crenças e valores, vão impregnando os alunos de solidariedade ou umbiguismo, de autonomia ou conformismo. Já dizia o Jung que, por força destes desmandos, todos nascemos originais e morremos feitos cópias...
Já deparei com personalidades moldadas numa concepção imutável de sociedade. Mas também conheci professores que consideravam ser possível prever a evolução das dinâmicas sociais e o modelo de cidadão adulto, vinte anos após a “formatação” cívica operada pela escola. Amiúde, leio em manuais escolares a expressão “educar para a cidadania”. Se bem entendo o sentido da frase, tratar-se-á de moldar o indivíduo numa lógica de sequencialidade regressiva, treinando-o, agora, para um posterior desempenho social, que se crê, por sua vez, ajustado a um determinado modelo de sociedade futura. Exactamente no estilo do faz-de-conta-que-já-somos-para-sermos-quando-formos, que acaba sendo um exercício que é fim em si próprio.
A educação será para a cidadania ou na cidadania? Não se trata de uma subtil diferença ente a palavra na e a palavra para. A primeira ser contracção de preposição e artigo e a segunda se apresentar como preposição simples são questões de somenos importância. Importante é o espírito da coisa, pelo que prefiro a expressão “educar na cidadania”, no hic et nunc do drama escolar. Fazemo-nos no que fazemos. Aprendemos cidadania, como tudo o resto, no devir que já somos no aqui e agora. Mas onde estão os espaços de exercício de uma liberdade responsável? Se nem os professores a exercem, como poderão ensiná-la? Assim como é absurdo pensar que, nas universidades, se ensine “métodos activos” em aulas caracterizadas pela passividade, também é inútil pensar que a cidadania pode ser ensinada em aulas expositivas amaciadas pela análise de dilemas, ou por via de discursos de moralidade duvidosa e eficácia nula. Não vamos lá com sermões…
Há escolas onde tudo é negação da cidadania. Nessas escolas, a solidão dos professores é da mesma natureza da solidão dos alunos, que passam de sala em sala, no ritmo pautado por uma campainha, e deparam com professores afáveis ou permissivos, uns exigentes, outros autoritários (para estes, parafraseando a Patrícia, o ser humano é nada, somente as regras são importantes e devem ser seguidas a qualquer preço). Não saberão que a cidadania, como a pedagogia, se aprende a par e é exercida com os outros? Se os professores estão sozinhos, encerrados em salas de aula, entregues às suas certezas e disfarçando angústias, que espaços de exercício de cidadania as escolas disponibilizam? "...
____________________________
Para ler o texto completo http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4514
Comentários